Maçarico investe 26 milhões para disparar na Azeitona

Maçarico investe 26 milhões para disparar na Azeitona


A Maçarico tem em curso um investimento de cerca de 26 milhões de euros na Praia de Mira e em Cantanhede, que vai mais do que quadruplicar a  produção anual de azeitona das atuais 12 mil para mais de 50 mil toneladas em 2020. Quando estiver concluído este processo de reestruturação, a maior empresa portuguesa   do sector  vai  empregar perto de 300 pessoas, mais uma centena do que na atualidade. A unidade industrial localizada na vila piscatória do concelho de Mira, onde a empresa foi fundada na década de 1940, vai passar a produzir apenas azeitona, que é o artigo mais relevante no negócio. Além de ganhar espaço que era ocupado com as outras produções  – tremoço, pickles, piri-piri, temperos culinários e molhos –, vão ser aplicados seis milhões de euros na modernização desta estrutura, com financiamento comunitário já garantido.

Porém, o maior investimento, que a administração estima totalizar 20 milhões de euros, está a ser feito a pouco mais de vinte quilómetros, na Zona Industrial de Cantanhede, onde já ergueu uma nova fábrica com 30 mil metros quadrados de área coberta. Nesta segunda unidade vai montar mais duas linhas de azeitona, uma para embalar azeite e ficará a produção do restante portefólio – já começou a ser transferida e estará concluída em Janeiro de 2019 –, que também ganha condições de fabrico para crescer. “Um negócio destes tem de ser global e esse mercado não é para as pequenas empresas. Essas não têm hipóteses. E uma empresa média com capacidade e potencial tem de passar a ser maior, tem de inovar em tecnologias. Com este projeto passamos a ombrear com as maiores de Espanha, onde há três ou quatro grandes”, resumiu ao Negócios o presidente, António Ribeiro Maçarico, que tem três sobrinhos envolvidos no negócio da família: na direção, compras e produção.

Após faturar 22 milhões de euros no ano passado, a administração prevê subir as vendas para 24 milhões no final de 2018. No mercado português tem distribuição nas maiores cadeias retalhistas, surgindo nas prateleiras sobretudo com a marca desses clientes. A exportação já vale mais de metade das receitas, com os produtos alimentares a seguirem para cerca de 40 países. “De longe”, com um valor próximo de quatro milhões de euros anuais, os EUA são o mercado externo mais relevante para a Maçarico. Para o outro lado do Atlântico despacha sobretudo azeitona oxidada às rodelas, em bolsa de alumínio e em lata, que é consumida em pizzas, saladas e sanduíches.

A Maçarico fechou um acordo exclusivo de abastecimento com a gigante cooperativa espanhola Dcoop, que a partir do próximo ano vai assegurar o fornecimento da matéria-prima à líder nacional na azeitona de mesa, assim como o azeite que passará a ser embalado com a marca portuguesa na nova fábrica de Cantanhede.

Este entendimento, concluído em Setembro, prevê que a empresa da região Centro passe a consumir apenas azeitona de origem portuguesa, uma vez que, apesar de ter sede do outro lado da fronteira, tem vários associados que são produtores no Alentejo, prometendo a entrega “nas variedades e quantidades necessárias”, mesmo com este aumento da capacidade que a vai tornar numa das maiores da Península Ibérica.

“Houve uma conjugação de interesses. Nós precisamos de estar tranquilos e ter o abastecimento garantido, e eles vieram ter connosco porque também precisam de clientes como nós”, apontou António Ribeiro Maçarico. O líder da empresa admitiu ao Negócios que  equacionou “a verticalização até à oliveira”, mas abandonou a ideia porque “era preciso muito dinheiro”. Andou inclusive à procura de um terreno no Alentejo para instalar um sistema próprio de receção da azeitona, para que chegasse à fábrica já desfolhada e calibrada. Um “conjunto de economias”, assegura, que também é conseguido com este modelo. “Temos a cadeia de valor desta forma indireta”, acrescentou.

Em paralelo com este contrato de abastecimento de azeitona, o mesmo grupo espanhol, com origem na região de Málaga e várias áreas de atividade dentro do sector agrícola, comprou uma posição de 5% na Maçarico. O empresário português sublinhou que era algo que também “convinha às duas partes”. “Para começar foi assim.

Mas não significa que eles não venham a aumentar [a participação no capital] porque, quando eu quiser vender, eles têm direito de preferência, pagando o mesmo preço. Se a Dcoop chegar à conclusão que quer comprar mais, eu estou disponível para discutir o negócio”, esclareceu António Ribeiro Maçarico. Ao Negócios, o presidente desta indústria transformadora insistiu que está vendedor, se surgir uma proposta boa” e garantiu ainda que nos últimos tempos tem sido abordado por fundos de investimento para alienar este negócio. “Felizmente têm vindo aqui muitos pretendentes. Claro que temos tido interessados. Como é que não haveríamos de ter, se eles vêem que temos uma relação excelente com a banca, com os clientes e também os investimentos que estamos a fazer?”, concluiu.

 

Larguesa, A. (2018). Maçarico investe 26 milhões para disparar na Azeitona. Jornal de Negócios, [online] pp.18 e 19. Available at: https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/industria/detalhe/macarico-investe-26-milhoes-para-disparar-producao-de-azeitona?ref=DET_relacionadas [Accessed 3 Dec. 2018].